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segunda-feira, outubro 27, 2003

Tradição
(versão 172k - série “vícios”)
Saudável a tradição de bem se estar à mesa reunido da demais família e amigos e outros que não o sendo partilham do mesmo hábito comunitário. Não para conversar que aqui somos todos flibusteiros dos vinhedos... e para ajudar à refrega tinto aos copos e com fartura de cinco litros que as garrafas são tímidas. E aos mais pequenos a mesma receita mas só um copito que não faz mal e dependentes? Comida à tripa forra que assim se empurra melhor e para o caminho que bem sabeis de rectas pouco tem... aos esses lá chego nem que seja para me lembrar que não parti sequer.
E mais um trago de uma vez só, q’isto é qu’é d’homem!

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quinta-feira, outubro 23, 2003

Tradição
(versão 159j - série “vícios”)
"Incomoda-lhe que trabalhemos?” Claro que não me incomoda nem aos milhares de automobilistas retidos nos congestionamentos a pares que o sentido neste caso é mesmo único: em frente mas parados. A ver os únicos que trabalham, “trabalhos de repavimentação”, dizem. E como há quem não acredite que se repavimente neste país os digníssimos resolveram a bem mostrarem-se nas horas de ponta que assim são notícia... e para o caso até nem interessa que o piso que agora se sujeita a estas manobras de propaganda lavada a alcatrão estava em condições mais do que aceitáveis para a prática suicida que é conduzir neste país...
E milhares a testemunharem-no.

Elucubrários:

segunda-feira, outubro 20, 2003

Tradição
(versão 140i - série “vícios”)
Impregnados de suor às voltas das mesas os empregados delas que o obsequeiam com o “que quer?” ao que convém responder “vá-se lavar!”.
Merdosos os passeios que os donos mesmo com vontade não largam a trela e deixam-nos assim borrar enquanto escarram... Tonitruante quanto baste para disfarçar os esgares canídeos é o que vos aconselho, principalmente quando estão na esplanada onde repimpadamente exibem o cãozinho e o suado empregado que ziguezagueia por entre os catarrosos testemunhos lhe avia o pedido.
E depois de lhe pagar dá-lhe um arroto de troco: “português, não é?”
“Suave”.

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quinta-feira, outubro 16, 2003

Estou convocado!
(versão 144a - série “desporto”)
Nunca em toda a minha vida tinha sido convocado com tanta antecedência. E muito mais satisfeito fiquei por se lembrarem de mim. É que Portugal precisa de mim! E quase o meu coração envolveu o esférico que normalmente serve para ser pontapeado. E que país tão verde, com plantinhas lá para o crescido qual resto alqueviano pendurado pelo céu tão azul mas desbotado pela linha do horizonte: é assim Portugal envelopado! E a pandora o que me reserva? Sou amigo do Felipão.
Um grande abraço para ele também. E como ele bem diz “Agora, chegou a sua vez.”
Sim, porque quando chegar a minha vez vou dizer ao carteiro que não me incluo no “A todos os Portugueses.” e que até constou que quem escreveu a carta é brasileiro. E pontapé pra frente?

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domingo, outubro 12, 2003

A SIDA não é católica
(versão 134a - série “vícios”)
E advoga-se que pior ou quase que o preservativo só o coador! Que a SIDA não vai à igreja. Que os que professam outros credos são uns vis libertinos sexuais, principalmente e só porque usam e abusam do preservativo masculino. Que os católicos penitentes, os que verdadeiramente professam e só procriam, são uns abnegados abstinentes. Que devolvem ao mundo abortos clandestinos que os padres nossos não foram pílula que bastasse. Que os preservativos esses diabos encarnados são eles sim veículo de propagação dessa malfadada doença que o alguém todo poderoso nos enviou para castigo dos homens que as mulheres não são para aqui chamadas. Castas e castos preservem-se, copulem au naturel e espalhem a boa-nova que há cruzes que cheguem para todos.

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domingo, outubro 05, 2003

Robert Walser
(versão 121a - série “arteslidas”)

Basta!
“Vim ao mundo a tantos de tal, fui educado em tal sítio, fui para a escola como qualquer um, sou isto e aquilo, chamo-me fulano de tal e não penso muito. Do ponto de vista do género sou do sexo masculino, do ponto de vista do estado sou um bom cidadão e do ponto de vista social pertenço à melhor sociedade. Sou um membro impecável, pacato e amável da sociedade humana, um dos chamados bons cidadãos, gosto de beber o meu copo de cerveja sobriamente, e não penso muito. Assim, não é de espantar que de preferência coma bem e também não é de espantar que as ideias não se aproximem de mim. O pensamento arguto é-me completamente alheio. As ideias ficam sempre muito longe de mim e por isso sou um bom cidadão, já que um bom cidadão não pensa muito. Um bom cidadão come o que tem a comer e isso basta!”
(completamente replagiado do Basta! de Robert Walser – 1917)

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quarta-feira, outubro 01, 2003

Tradição
(versão 108h - série “vícios”)
Era desoladora a visão aérea que as hélices alheias testemunhavam. E creiam-me que é verdade! A princípio não criam nos relatos ardentes que debitava sempre que tornava a terra. Diziam-me que por andar a passarinhar tinha já a vista em bico e aquilo que vislumbrava não era senão o resultado de andar sempre às voltas. E tomei a decisão de convidá-los a todos a passarinhar comigo para assim cartografarem a minha inocência. E no primeiro dia contámos por muitos os ninhos calcinados e os que ainda não tinham ardido... não mais foram vistos.
E tantos a quererem ilibar-me.

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